sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Por que e como checar imagens falsas (Parte 1) | Gabriel Teixeira

POR QUE E COMO CHECAR IMAGENS FALSAS (PARTE 1): 

um guia breve e intuitivo para sobrevivência visual na web
Gabriel Teixeira
Bibliotecário e Mestrando em Ciência da Informação
IBICT/ECO-UFRJ

As fake news têm atuado como importantes agentes para desinformação e gerado consequências drásticas em toda a sociedade. Elas têm ainda mais força quando seu conteúdo é ilustrado por uma imagem que reforça sua narrativa falsa. No solo fértil das mídias sociais digitais, seu alcance é absurdo e não deve ser subestimado, muito menos o impacto que provocarão. Este post apresenta rapidamente um dos conceitos de desinformação e se preocupa em evidenciar a atuação das fake news agem e como combatê-las pela checagem de imagens com ferramentas/recursos disponíveis na web.

Basicamente, o conceito de desinformação aponta para qualquer conteúdo, independente do suporte que o contenha e onde ele seja disseminado, que possua informações falsas ou distorcidas/descontextualizadas no sentido de enganar e equivocar os indivíduos (VOLKOFF, 2004; FALLIS, 2015). Fallis (2015) faz uma distinção entre disinformation e misinformation. No primeiro caso, a desinformação é construída de modo intencional e objetiva a ação de sua concepção, desinformar. No segundo caso, ocorre pela falta de percepção no indivíduo em contato com o conteúdo falso, que sem perceber acaba por replicá-lo.

Nos últimos anos iniciativas de verificação/ checagem de conteúdos ganharam força e se tornaram imprescindíveis ao combate às fakes news. Algumas dessa iniciativas estão ligadas a agências jornalísticas e com certificação internacional. Para conhecimento, seguem algumas iniciativas e seus respectivos perfis no Twitter, conhecidas como fact-checking (checagem de fatos): Agência Lupa (precursora no Brasil) [@agencialupa], Truco [@truco], Aos Fatos [@aosfatos], Chequeado (Argentina) [@chequeado], os links para os portais estão ao final. Assim, Zattar (2017) chama atenção para a importância de verificar/checar não só o conteúdo como as próprias as fontes de informação rotineiramente utilizadas pelos indivíduos no dia-a-dia da internet.

Um exemplo de fake news foi a campanha orquestrada pela extrema direita brasileira após assassinato da vereadora e humanista Marielle Franco, crime não elucidado há mais de um ano. Poucos dias após o violento crime, uma das várias fake news que surgiram associavam Marielle ao tráfico de drogas ilegais alegando ser ela ex-mulher do criminoso Marcinho VP. A imagem de um casal, que nitidamente não eram Marielle e nem Marcinho VP (é importante ressaltar que não havia nenhuma ligação entre os dois), circulou na rede ilustrando a notícia falsa. Quem fez a checagem dessa notícia falsa foi a agência Aos fatos, você pode conferir clicando aqui.

Para não serem enganadas, as pessoas devem sempre verificar/checar os conteúdos de notícias que circulam pela rede. Verificar/checar as imagens que os acompanham é mais necessário ainda. Inspirado no curso sobre como checar imagens falsas na web oferecido pela Agência Lupa, compartilho aqui o passo a passo de uso das seguintes ferramentas: Google Imagens, Bing Imagens, TinEye e Visual Ping.
GOOGLE IMAGENS

O Google oferece diversas ferramentas para os tipos de busca mais específicos. No entanto, o buscador recupera numerosos volumes de resultados de todos os cantos da web. No caso do recurso pela busca reversa, quando o Google recupera a imagem pela url ou pelo arquivo da imagem, os resultados tendem a ser melhor direcionados. Como fazer? Primeiro é preciso direcionar-se à página inicial do Google Imagens:
Fonte: Reprodução Google Imagens (2019). 

Após isso, deve-se clicar no ícone da câmera na barra de busca localizada no canto superior esquerdo, conforme a reprodução abaixo.
Fonte: Reprodução Google Imagens (2019).

Depois disso, surgirá uma caixa “Pesquisa por imagem” com duas opções: colar URL da imagem e enviar uma imagem. A segunda opção envia uma imagem específica em arquivo salvo no computador ou telefone.

Fonte: Reprodução Google Imagens (2019).

BING IMAGENS

Similar ao Google, o Bing, outro buscador da web, também possui ferramentas para refinar a busca. O Bing Imagens oferece os mesmo recursos do Google Imagens, porém acrescenta uma particularidade à pesquisa: a busca por um recorte específico selecionado da imagem, ampliando os detalhes. Esse recurso possibilita descobrir a partir de qual imagem original surgiu a imagem manipulada/editada. Como acontece? Primeiro é preciso direcionar-se à página inicial do Bing:



Fonte: Reprodução Bing Imagens (2019).

Deve-se clicar na ícone da câmera na barra de busca localizada no canto superior esquerdo, conforme a reprodução abaixo.

Fonte: Reprodução Bing Imagens (2019).

Em seguida, surgirá uma caixa “Experimente a Pesquisa Visual” com três opções: a primeira é a opção de procurar um arquivo salvo no desktop do dispositivo, a segunda é a de colar uma imagem à sua URL e por fim o Bing oferece a opção de tirar um foto (para isso é preciso habilitar a câmera do dispositivo).

Fonte: Reprodução Bing Imagens (2019).

Logo no resultado, a imagem inserida aparece em destaque no lado esquerdo e abaixo dela um botão com o ícone de recorte com o título “Pesquisa visual”. Essa funcionalidade serve para selecionar a parte da imagens a qual pretende-se recuperar a informação, e assim permitir buscar a foto original e, também a fonte que serviu de fundo para montagem. Abaixo o exemplo de uma imagem falsa (montagem) com uma parte selecionada (é possível observar o botão citado logo em baixo) e ao lado a notícia verdadeira sobre o ocorrido.

Fonte: Reprodução Bing Imagens (2019).

O Bing também organiza por categorias de resultados direcionando melhor a pesquisa.


TINEYE

O TinEye é ideal para se conferir se as imagens que circulam com as fake news condizem com a temporalidade a que elas se referem. O site recupera a imagem por meio da URL ou do arquivo baixando no desktop a primeira ocorrência da imagem da rede, ou seja, recupera a imagem na fonte. Portanto, a especialidade do site é a busca reversa. Como? Primeiro é necessário seguir até à página inicial do TinEye.

Fonte: Reprodução TinEye (2019).

Em seguida, é preciso clicar no botão de upload localizado do lado esquerdo da barra de busca centralizada na tela.

Fonte: Reprodução TinEye (2019).


Feito isso o resultado aparece imediatamente. A data do primeiro upload da imagem na rede aparece ao lado direito da mesma e depois as demais imagens em ordem cronológica de postagem (da data inicial para as mais recentes).

VISUAL PING

Das quatro ferramentas apresentadas o Visual Ping é o que possui maior particularidade. O site proporciona acompanhar todas as modificações que ocorreram em uma imagem ou página ao longo do tempo, ou seja, é possível, ao colar o endereço (HTTP) de um outro site, um site biográfico por exemplo, ou até mesmo carregar o print da página, descobrir as alterações feitas. Basta selecionar, por meio de uma caixa de recorte, a parte que deseja obter a informação e o site prontamente recupera. Como funciona? Primeiro, é necessário seguir a para página inicial do site.

Fonte: Reprodução Visual Ping (2019).

O próximo passo é colar o endereço (HTTP) do site que se deseja descobrir as informações na caixa de pesquisa localizada no centro da página e clicar em “Go”, conforme o exemplo abaixo.

Fonte: Reprodução Visual Ping (2019).

Feito isso, surgirá a imagem referente à busca realizada. Ao redor dela aparecerá um recorte ajustável para que seja possível selecionar a parte que se deseja obter os resultados.

Fonte: Reprodução Visual Ping (2019).

Por fim, é só clicar no botão “start free monitoring” ao final da página (parte inferior à caixa de seleção/ recorte da imagem) e cadastrar seu endereço de e-mail para receber as notificações sobre atualizações no site, página ou imagem.

Fonte: Reprodução Visual Ping (2019).

O conhecimento de tais ferramentas e sua aplicabilidade no cotidiano da web (na qual passamos várias horas, seja por entretenimento, por informação, por trabalho, ou tudo isso) é muito importante. Estes sites funcionam como poderosos aliados no combate às notícias falsas e às desastrosas consequências que elas podem trazer. Na próxima parte deste artigo serão apresentadas as ferramentas: Way Back Machine, TweetDeck e Versionista.

LINKS IMPORTANTES

Google imagens: https://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi&authuser=0&ogbl
Bing imagens: https://www.bing.com/?scope=images&FORM=Z9LH1
TinEye: https://www.tineye.com/
Visual Ping: https://visualping.io/
Agência Lupa: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/
Truco: https://apublica.org/tag/truco/
Aos Fatos: https://aosfatos.org/
Chequeado: https://chequeado.com

REFERÊNCIAS
FALLIS, D. What is disinformation?. Library Trends, v. 63, n. 3, 2015.

ZATTAR, M. Competência em informação e desinformação: critérios de avaliação do conteúdo das fontes de informação. Liinc em revista, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 285-293, nov. 2017.

VOLKOFF, V. Pequena história da desinformação: do cavalo de Tróia à internet. Curitiba: Ed. Vila do Príncipe, 2004.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Como desmentir (com possibilidade de bons resultados) uma notícia falsa | Andréa Doyle

Andréa Doyle
Extraído da tese de doutoramento em fase de elaboração
Mestra em Ciência da Informação
PPGCI IBICT/UFRJ

            Um dos principais problemas da desinformação, especialmente das notícias falsas é que, uma vez que a pessoa acreditou na notícia, é muito difícil ela desacreditar. Hoje, constata-se  que, mesmo tendo acesso a uma retificação, as pessoas continuam acreditando na mentira anterior. Lewandowski e equipe (2012) fizeram um extenso trabalho de revisão de literatura em busca de: a) definir e tipificar o que acontece quando a pessoa percebe que acreditou numa informação falsa, e b) quais estratégias de correção funcionam para cada tipo de problema. Eles chegaram à seguinte solução:



            O que o primeiro problema nos mostra é que quando a pessoa acredita em uma informação, ela passa a fazer parte da pessoa. No caso de a informação ser desmentida, a pessoa reage se apegando à informação antiga, mesmo sabendo que está errada porque sente um grande desconforto, como se tivesse algo faltando. A solução para isso é não somente desmentir, mas oferecer uma outra explicação que possa substituir a explicação antiga. Além disso, as pessoas esquecem mais facilmente o desmentido do que a informação original, o que indica que a correção precisa ser repetida várias vezes.
            A familiaridade é o segundo problema identificado pela equipe de psicólogos. A famosa frase de Goebbels ‘uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade’ é uma realidade por causa desse fenômeno. Instintivamente o ser humano sabe que o novo pode ser perigoso, então desenvolvemos uma satisfação ao reconhecer as coisas. Temos o sentimento de familiaridade com aquela coisa e ficamos involuntariamente mais calmos, mesmo que seja falsa. Por outro lado, se somos avisados que pode haver uma emboscada à frente, ficamos alertas: essa é uma das maneiras de lutar contra a familiaridade. A outra é a repetição do fato várias vezes para também fazê-lo ser familiar.
            O efeito nefasto de explicação é a terceira causa de problemas para se desmentir uma informação falsa. Gostamos de explicações simples, mas a maior parte dos desmentidos apresenta uma série de argumentos que nos fazem preferir a simplicidade da mentira original. Para contornar esta dificuldade, os autores sugerem que se dê explicações muito simples para o fato. Ademais, as pessoas que entretêm um ceticismo saudável (moderado) sofrem menos a influência da desinformação.
            Por fim, eles evidenciam o que outras pesquisas disseram sobre os vieses, que eles chamam de visão de mundo, mostrando que se a informação é identificada como pertencente à visão de mundo oposta ela não penetra a pessoa. Qualquer coisa que se oponha a uma das opiniões da pessoa parece se opor a ela como pessoa integralmente. Um jeito de solucionar esse problema é desvincular as opiniões das pessoas, reafirmando as qualidades da pessoa para que ela tenha autoestima suficiente para recuar e mudar de ideia. Outro jeito de atravessar a barreira de visão de mundo é envolver a opinião contrária com os valores da pessoa, para que ela, ao se abrir para ouvir o que quer, ouça também o ponto contrário que se está querendo comunicar.
            Embora estudos sobre vieses e polarização já tenham quase meio século, a omnipresença das tecnologias da comunicação e da informação em nossas vidas possibilita um bombardeio incessante de informações, e o problema toma proporções exponenciais. Em artigo em vias de publicação, Anna Brisola e eu (BRISOLA; DOYLE, [2019?]) tratamos amplamente do problema da desinformação e de como a competência crítica em informação pode nos ajudar a reagir aos ataques informacionais cotidianos.

REFERÊNCIAS

BRISOLA, A.; DOYLE, A. Critical information literacy as a path to resist “Fake News”: understanding disinformation as the root problem. Open Information Science, [Warsaw, Polônia, 2019?]. No prelo.

LEWANDOWSKY, S.; ECKERT, U. K. H.; SEIFERT, C. M.; SCHWARZ, N.; COOK, J. Misinformation and its correction: Continued influence and successful debiasing. Psychological Science in the Public Interest, v. 13, p. 106-131, 2012. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1529100612451018. Acesso em: 10 mar. 2019.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Desinformação, competência em informação e universidade | Marianna Zattar no TEDxUFRJ

Olá, como vocês estão? Esperamos que bem!

Viemos hoje trazer um conteúdo apresentado no TEDxUFRJ, onde a professora Marianna Zattar nos apresenta o contexto informacional e os conceitos de desinformação, misinformation e mal-information. Ela também aborda as fake news, que foram o tema do Fórum sobre Competência em Informação em 2017.

Marianna Zattar é formada em Biblioteconomia, especialista em Inteligência Competitiva e Gestão Estratégica da Informação, com Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação. Professora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marianna ministra aulas de Recursos Informacionais, Competência em Informação e Tópicos Especiais. Zattar também constrói com a gente a Rede CoInfo.



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