Andréa Doyle
Extraído da tese de doutoramento em fase de elaboração
Mestra em Ciência da Informação
PPGCI IBICT/UFRJ
Um dos principais problemas da desinformação, especialmente das notícias falsas é que, uma vez que a pessoa acreditou na notícia, é muito difícil ela desacreditar. Hoje, constata-se que, mesmo tendo acesso a uma retificação, as pessoas continuam acreditando na mentira anterior. Lewandowski e equipe (2012) fizeram um extenso trabalho de revisão de literatura em busca de: a) definir e tipificar o que acontece quando a pessoa percebe que acreditou numa informação falsa, e b) quais estratégias de correção funcionam para cada tipo de problema. Eles chegaram à seguinte solução:
O que o primeiro problema nos mostra é que quando a pessoa acredita em uma informação, ela passa a fazer parte da pessoa. No caso de a informação ser desmentida, a pessoa reage se apegando à informação antiga, mesmo sabendo que está errada porque sente um grande desconforto, como se tivesse algo faltando. A solução para isso é não somente desmentir, mas oferecer uma outra explicação que possa substituir a explicação antiga. Além disso, as pessoas esquecem mais facilmente o desmentido do que a informação original, o que indica que a correção precisa ser repetida várias vezes.
A familiaridade é o segundo problema identificado pela equipe de psicólogos. A famosa frase de Goebbels ‘uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade’ é uma realidade por causa desse fenômeno. Instintivamente o ser humano sabe que o novo pode ser perigoso, então desenvolvemos uma satisfação ao reconhecer as coisas. Temos o sentimento de familiaridade com aquela coisa e ficamos involuntariamente mais calmos, mesmo que seja falsa. Por outro lado, se somos avisados que pode haver uma emboscada à frente, ficamos alertas: essa é uma das maneiras de lutar contra a familiaridade. A outra é a repetição do fato várias vezes para também fazê-lo ser familiar.
O efeito nefasto de explicação é a terceira causa de problemas para se desmentir uma informação falsa. Gostamos de explicações simples, mas a maior parte dos desmentidos apresenta uma série de argumentos que nos fazem preferir a simplicidade da mentira original. Para contornar esta dificuldade, os autores sugerem que se dê explicações muito simples para o fato. Ademais, as pessoas que entretêm um ceticismo saudável (moderado) sofrem menos a influência da desinformação.
Por fim, eles evidenciam o que outras pesquisas disseram sobre os vieses, que eles chamam de visão de mundo, mostrando que se a informação é identificada como pertencente à visão de mundo oposta ela não penetra a pessoa. Qualquer coisa que se oponha a uma das opiniões da pessoa parece se opor a ela como pessoa integralmente. Um jeito de solucionar esse problema é desvincular as opiniões das pessoas, reafirmando as qualidades da pessoa para que ela tenha autoestima suficiente para recuar e mudar de ideia. Outro jeito de atravessar a barreira de visão de mundo é envolver a opinião contrária com os valores da pessoa, para que ela, ao se abrir para ouvir o que quer, ouça também o ponto contrário que se está querendo comunicar.
Embora estudos sobre vieses e polarização já tenham quase meio século, a omnipresença das tecnologias da comunicação e da informação em nossas vidas possibilita um bombardeio incessante de informações, e o problema toma proporções exponenciais. Em artigo em vias de publicação, Anna Brisola e eu (BRISOLA; DOYLE, [2019?]) tratamos amplamente do problema da desinformação e de como a competência crítica em informação pode nos ajudar a reagir aos ataques informacionais cotidianos.
A familiaridade é o segundo problema identificado pela equipe de psicólogos. A famosa frase de Goebbels ‘uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade’ é uma realidade por causa desse fenômeno. Instintivamente o ser humano sabe que o novo pode ser perigoso, então desenvolvemos uma satisfação ao reconhecer as coisas. Temos o sentimento de familiaridade com aquela coisa e ficamos involuntariamente mais calmos, mesmo que seja falsa. Por outro lado, se somos avisados que pode haver uma emboscada à frente, ficamos alertas: essa é uma das maneiras de lutar contra a familiaridade. A outra é a repetição do fato várias vezes para também fazê-lo ser familiar.
O efeito nefasto de explicação é a terceira causa de problemas para se desmentir uma informação falsa. Gostamos de explicações simples, mas a maior parte dos desmentidos apresenta uma série de argumentos que nos fazem preferir a simplicidade da mentira original. Para contornar esta dificuldade, os autores sugerem que se dê explicações muito simples para o fato. Ademais, as pessoas que entretêm um ceticismo saudável (moderado) sofrem menos a influência da desinformação.
Por fim, eles evidenciam o que outras pesquisas disseram sobre os vieses, que eles chamam de visão de mundo, mostrando que se a informação é identificada como pertencente à visão de mundo oposta ela não penetra a pessoa. Qualquer coisa que se oponha a uma das opiniões da pessoa parece se opor a ela como pessoa integralmente. Um jeito de solucionar esse problema é desvincular as opiniões das pessoas, reafirmando as qualidades da pessoa para que ela tenha autoestima suficiente para recuar e mudar de ideia. Outro jeito de atravessar a barreira de visão de mundo é envolver a opinião contrária com os valores da pessoa, para que ela, ao se abrir para ouvir o que quer, ouça também o ponto contrário que se está querendo comunicar.
Embora estudos sobre vieses e polarização já tenham quase meio século, a omnipresença das tecnologias da comunicação e da informação em nossas vidas possibilita um bombardeio incessante de informações, e o problema toma proporções exponenciais. Em artigo em vias de publicação, Anna Brisola e eu (BRISOLA; DOYLE, [2019?]) tratamos amplamente do problema da desinformação e de como a competência crítica em informação pode nos ajudar a reagir aos ataques informacionais cotidianos.
REFERÊNCIAS
BRISOLA, A.; DOYLE, A. Critical information literacy as a path to resist “Fake News”: understanding disinformation as the root problem. Open Information Science, [Warsaw, Polônia, 2019?]. No prelo.
LEWANDOWSKY, S.; ECKERT, U. K. H.; SEIFERT, C. M.; SCHWARZ, N.; COOK, J. Misinformation and its correction: Continued influence and successful debiasing. Psychological Science in the Public Interest, v. 13, p. 106-131, 2012. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1529100612451018. Acesso em: 10 mar. 2019.
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